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Grupo que fazia identificação de ossadas de Perus tem trabalho suspenso por Bolsonaro. “Quem procura osso é cachorro”.


O cemitério clandestino de Perus foi descoberto em 1990. Durante os anos de 1970, local era usado por policiais e militares para enterravam no local, presos políticos da ditadura militar.


Quando era parlamentar, Bolsonaro posou ao lado de cartaz que ironizava as buscas por desaparecidos políticos da ditadura / Reprodução/Facebook

Um decreto feito por Bolsonaro de número 9759, encerra os conselhos e comissões, provocou o encerramento do Grupo de Trabalhos Perus, que tinha como trabalho a identificação de corpos de desaparecidos políticos em mais de 1.047 caixas de ossadas de vala em cemitério de Perus, em São Paulo.

O grupo era vinculado aos Ministérios da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, e a missão era concluir a identificação das ossadas das vítimas da ditadura militar, que começou os trabalhos em 2014, depois de uma determinação da Justiça Federal em ação civil pública.

O governo disse que "está avaliando, estudando e proporá algo dentro dos parâmetros do decreto". Durante sua atuação parlamentar, Bolsonaro criticava as buscas pelos desaparecidos. Posou ao lado de cartaz sobre as buscas na região do Araguaia que dizia: "Quem procura osso é cachorro".

"Mais do que enterrar os desaparecidos, o governo está implodindo todo um sistema voltado à justiça. O decreto não atinge só o Grupo de Perus, mas também o Grupo de Trabalho Araguaia", informou a procuradora regional da República Eugênia Gonzaga.
"Embora haja verba prevista e determinação judicial para que o trabalho seja feito, não há ninguém hoje que possa assinar um documento ou contratar quem quer que seja para realizar os trabalhos”, completa Eugênia Gonzaga.


Perus


A vala de ossos de Perus foi descoberta em 1990. Nos anos 70, local era usado por militares e policiais para enterrarem com nomes falsos, presos políticos assassinados pela ditadura militar. Os trabalhos de identificação descobriram em muitos ossos achados, os restos mortais de Dimas Casemiro, militante do Movimento Revolucionário Tiradentes (MRT), que foi morto a tiros. Também foi descoberto a ossada do advogado Aluísio Palhano, líder da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), que morreu ao ser torturado no Destacamento de Operações de Informações (DOI), do 2º Exército, em 1971, sob ordens do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra.

250 mostras ósseas foram enviadas analise. Ainda resta 30% dos ossos para ser analisado, da caixa onde contém inúmeros ossos de indivíduos não identificados. "É preciso prorrogar o trabalho para analisar as ossadas restantes", disse Eugênia.

Cemitério de Perus. Foto Revista Fórum 


O que as famílias dizem


"A decisão que acaba com os grupos é coerente com as homenagens que Bolsonaro presta ao coronel Ustra. Em vez de se esclarecer o passado, esse governo está interessado em glorificá-lo", disse o jornalista Ivan Seixas. Ele tinha 16 anos quando foi preso em 1971 pelo DOI em companhia de seu pai, Joaquim Alencar Seixas. Ambos eram militantes do MRT.

"Vi meu pai ser torturado e morto no DOI sob o comando de Ustra, e fiquei seis anos preso." Dois dos companheiros de Seixas estavam na vala de Perus. Trata-se de Denis Casemiro, assassinado sob tortura por policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), da Polícia Civil de São Paulo, e Dimas Casemiro.


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